
O cinema português na visão de um actor formado pela Escola de Superior de Artes do Porto (ESAP)
Quando se pensa em cinema, pensa-se em realização, em produção e argumento. Descura-se, muitas vezes, o lado da representação, o núcleo dos actores que transportam a história do papel para o movimento. Luís Trigo é um jovem actor, com carreira já no teatro e no cinema, que avalia muito negativamente o que se faz neste momento por cá.
“O cinema português está muito mal, porque dá-se dinheiro a gente que não tem qualidade e menos às pessoas que a têm.”
Luís Trigo queixa-se de que os actores portugueses têm falta de oportunidades de emprego, e que apesar de terem qualidade, não a vêem reconhecida.
Na óptica do actor, o cinema de agora é marcado, claramente, pelo sensacionalismo e pelo ‘comercialismo puro’.
Em relação ao trabalho enquanto actor, já participou, profissionalmente, numa longa-metragem: o “Cônsul de Bordéus”. Em relação às áreas do cinema e teatro, acrescenta que “as diferenças é
“Queremos ser como os americanos e perdemos um bocado a nossa filosofia que sempre foi sermos muito genuínos. Não estou a dizer que copiar é mau, mas ao menos que saibamos copiar.”
que no cinema o cenário é natural e no palco é fictício. De resto a representação tem de lá estar e o sentimento também.”Quando pensou em ser actor, não pensou em cinema nem teatro, mas ,sim, em publicidade na televisão, porque, afirma, “foi sempre uma área que me fascinou”. Mas, ao tirar o curso de teatro, este ganhou uma dimensão enorme na sua vida, o que só veio provar que "o teatro é importante em tudo na vida, até a nível social". “O teatro funcionou como uma escola de controlo de emoções para sermos mais genuínos e verdadeiros connosco próprios. Aproveitei a representação para aprender a viver.”
Quanto à questão das dificuldades em ser actor, em Portugal, nos dias de hoje, pode apontar-se, desde já, a distinção entre cinema e teatro, tendo os primeiros mais privilégios e regalias em comparação com os do segundo meio.
Para Luís Trigo, os actores são escolhidos pelas caras e não pelos talentos. Também se gasta imenso dinheiro, com pequenas produções, porque querem contratar grandes actores e colaboradores, e ter grandes cenários.
“Há poucos apoios para os jovens e muitos para as pessoas mais conhecidas como, por e
xemplo, Manoel de Oliveira. A minha sugestão era gastar-se menos dinheiro e o filme tinha a mesma qualidade, se se apostasse na qualidade em vez de na quantidade”, afirma Luís.A preocupação com a aparência, a tentativa de americanizar o cinema português, leva a que se descure a história, o argumento. O filme português torna-se, assim, muito intelectual: desde a sua aparência – “mais escura” e “menos nítida” – até ao som, como explica Luís.“Acho que os jovens artistas são pouco apoiados em Portugal - há os que têm valor e os que não têm – e se calhar tem de haver uma selecção mais rígida. Enquanto não se lutar por uma carteira profissional de actor, vai continuar a haver gente que só tem a imagem a seu favor contra pessoas que, poderiam desempenhar melhor os papeis mas que, por não serem tão bonitas, não têm essa possibilidade.”
Pode então dizer-se que no cinema português, nos dias de hoje, se consome mais aparência em quantidade do que qualidade.

