segunda-feira, 31 de maio de 2010

Entrevista virtual: Cinema português na blogosfera

David José Martins, autor de blogs de cinema, de 31 anos, residente em Olhão, fala sobre o papel que o cinema português ocupa na blogosfera.

"Um dos 'pecados' das produções nacionais é a escassa variedade de géneros"

-Há quanto tempo tens interesse por cinema? E desde quando tens um blog especializado nesse tema?
Comecei a frequentar as salas de cinema relativamente tarde, no inicio da década de 90 quanto já tinha 12 ou 13 anos. Até aí, só tinha assistido a filmes na TV, quando ainda só existiam dois canais para escolher. Até ver o “Parque Jurássico” no cinema, os filmes não tinham tido grande impacto na minha vida, mas o filme de Steven Spielberg mudou tudo; comecei a comprar revistas e a procurar informações sobre a 7ª arte. Reconheço que na minha educação cinéfila faltam muitos dos chamados clássicos, todavia tal como na literatura, as minhas preferências recaem nos géneros fantástico, ficção-científica, aventura e mistério.
Apesar de estar presente na blogosfera desde 2003, com o blog generalista “Prometheus31”, onde escrevi as minhas primeiras críticas, só em 2005 decidi passar para o “próximo nível” e criar o “CINE31”, dedicado ao cinema, livros e televisão, sempre com uma vertente nerd e um estilo e linguagem simples e acessível. Do interesse pelo cinema nasceu a curiosidade pelas action figures e coleccionáveis que levaram à criação, em 2009, do blog “spin-off Cine31 Collector’s Edition”.

No teu blog, falas também de cinema português?
No blog também abordo o cinema português, especialmente quando determinado filme se encaixa nos géneros ou características que me despertam interesse, o que infelizmente não acontece tantas vezes como gostaria. Na minha opinião um dos “pecados” das produções nacionais é a escassa variedade de géneros. Seria fundamental alcançar o público que é afastado das salas por falta de informação objectiva, ou pela postura arrogante e hermética de grande quantidade dos produtos cinematográficos de Portugal. Ou conseguir, pelo menos, um maior equilíbrio entre a exploitation e a arte.

O que achas do panorama actual do cinema português, principalmente do ponto de vista da blogosfera?
Uma das vantagens da Internet é a facilidade em trocar informações e opiniões. O “passa-palavra” pode ser determinante para afundar ou promover um filme, e a Internet, quando bem utilizada, é um excelente veículo para alcançar o público. No entanto, creio que a generalidade dos responsáveis pelas produções nacionais não aproveita de modo eficiente as ferramentas disponíveis, não basta ter um site com um trailer e meia dúzia de fotos. Nos últimos anos, é de destacar o aparecimento de revistas online de grande qualidade, dedicadas ao cinema internacional e nacional.

Achas que nos últimos anos se efectuou um desenvolvimento na blogosfera desse tema? Já há blogs sobre cinema português apenas; há uma maior adesão ao mesmo?
Creio que sim. Penso que houve um grande desenvolvimento na blogosfera, da parte dos utilizadores cinéfilos, com uma “explosão” de blogs com registo dos mais diversos, entre o formal e o informal, que apesar da diferença avassaladora de oferta de filmes estrangeiros também abordam o cinema português, tanto na sua vertente mais comercial como mais autoral, resultando no aumento da quantidade de informação disponível sobre as poucas estreias portuguesas, reflexo da nossa pequena infra-estrutura.
Mas se do lado dos fãs existe interesse, do lado dos responsáveis pelas produções parece reinar a incapacidade – mais que a falta de verbas – de planear e executar um filme como um todo, na sua vertente artística e comercial. Só um projecto bem elaborado pode comunicar aos espectadores os seus objectivos e satisfazer a sua curiosidade. Os utilizadores de Internet são poderosos formadores de opinião, e creio que é mais proveitoso quando os produtores de conteúdo usam a interactividade com o público-alvo, mais além da mera recompilação de dados.

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